terça-feira, 27 de outubro de 2009

Transcendendo Lynch (nacional).
Dirigido por: Marcos Andrade.
Duração: 84 minutos.


 Este filme é um documentário feito durante a vinda do artista norte americano, conhecido principalmente por seus filmes, David Lynch ao Brasil, ele esteve por aqui este ano, se não me falha a memória para divulgar o lançamento do seu livro, “Em águas profundas” sobre seu processo de criação influenciado pela meditação transcendental. 

 Como todo documentário temos uma visão do que ocorreu por aqui, temos todos os momentos de Lynch com o público e como ele é idolatrado por aqui, principalmente pelo seus filmes, e nem tanto pelo seu entendimento da meditação transcendental, seu principal motivo de vinda ao Brasil, reconheço a livraria cultura em São Paulo e a FAAP, em palestras/conversas que ele fez por aqui. Lembro muito bem da época que ele esteve por aqui, infelizmente não pude pegar um autografo dele em meu livro, o que me dá uma certa nostalgia negativa, já que é meu cineasta favorito.

 Fui ver este filme, que teve sua primeira exibição pública na Mostra deste ano, inclusive ao final da sessão teve um breve bate-papo com o diretor Marcos Andrade, a sessão estava vazia, bem aquém do que eu imaginava que estaria, talvez por ser uma terça-feira com muita chuva em São Paulo ou porque o filme terá mais três exibições na mostra ainda.

 Quanto ao filme, ele tem diversos momentos diferentes em questão de imagens, várias cenas de peixes, que podem remeter ao livro, que fala bastante através de metáforas usando os peixes. Imagens de bastidores, com o vice-presidente da David Lynch Foundation, que o próprio Lynch chama de Bobby, um velho musico que chegou a tocar com os Beatles, que agora não me lembro o nome e as pessoas que organizaram os diversos eventos em que ele esteve envolvido. As entrevistas com Lynch são muito naturais, lembra bastante algumas conversas mais filosóficas que temos com amigos em bares, durante uma viagem, é bem interessante o direcionamento das imagens quando Lynch está falando de meditação transcendental.

 Temos os momentos de suas palestras, onde ele fala bastante de seus filmes, ou não, muitas das dúvidas que seus filmes deixam, não são esclarecidas em suas entrevistas, ele simplesmente nega explicar algumas das situações surreais que estão em quase todos os seus filmes. As vezes parecendo até tirar um sarro dos estudantes de cinema que devem se preocupar tanto em explicar seus filmes, que esquecem de perceber outras experiências que seus filmes possam passar. Neste documentário ele parece mostrar que entendemos o filme através de sensações que talvez não consigamos explicar com palavras, assim acredito eu, que os filmes dele expressam, alem de suas metáforas e mensagens maquiadas, um modo de sentir sem explicar, através do surreal.

 A relação de Lynch com o público é mais serena possível, mostrando a calma de um budista, diferentemente da tensão e da violência de seus filmes, Lynch tenta tratar todos com a mesma atenção e carinho, dos mais diversos, diferentes e bizarros que as pessoas que vão até ele possam parecer. Uma visão do público também é mostrado, dizendo o que acham de Lynch, desde as mais estranhas declarações, até as mais filosóficas e apaixonadas. Temos cenas de pessoas entregando bilhetes, sendo autografadas no corpo e até desenhando para o famoso blogueiro que pede para as personalidades desenharem hipopótamos.

 O filme tem uma ótima trilha sonora, bem ao estilo dos filmes do próprio Lynch, causando sensações que a musica intensifica com as imagens, momentos de influências de imagens de Lynch também estão pelo filme. Alguns momentos temos a sensação de um Lynch profeta que prega a meditação transcendental e que a todo momento fica ali, pregando e pregando, como se este método de meditação fosse a solução para o planeta. O que me leva a pensar que num lugar como o Brasil onde uma boa parte da população não tem o que comer, se torna estranha e inimaginável. Visto por este lado o filme se torna pretensioso e inocente ao mesmo tempo, pois, a figura de Lynch é tão serena e calma, contrastando com seus filmes que você pode até acreditar naquilo que ele tanto prega.

 É um bom filme, que deve ser visto, talvez, por fãs do Lynch que devem imaginar que ele é um louco, por fãs de meditação transcendental que desejam se instruir com um dos mais importantes praticantes e até mesmo para as pessoas que desejam ter mais conhecimento através deste documentário, você pode não sair de lá querendo praticar a meditação, mas tem algumas frases que você pode usar em sua vida. Lynch é magnífico, um maravilhoso filme feito aqui no Brasil por um cineasta brasileiro que merece todo o mérito por ter  um documentário tão sensível e apaixonante por uma idéia e uma pessoa.

OBS: Não encontrei o cartaz do filme na net, coloquei uma foto do Lynch mesmo.


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