quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O fabuloso destino de Amelie Poulain (Le fabuleux destin d’Amelie Poulain)
Dirigido: Jean-Pierre Jeunet
Duração: 122 minutos


Para completar o mês com filmes Franceses, escolhi O fabuloso destino de Amelie Poulain, já tinha colocado o Pierrot Le Fou da Nouvelle Vague, Persepolis que concorreu a melhor filme em Cannes e melhor animação no Oscar, Boise-moi um filme mais underground com violência psicológica e carnal e Canções de Amor que é um musical romântico.

Amelie Poulain é bem conhecido, principalmente em São Paulo, por estampar camisetas, canecas e eco-bags, tornou-se um filme muito visto depois que saiu em DVD, certamente um filme que agrada mais o público feminino.

A personagem principal do filme é justamente Amelie Poulain uma solitária menina que cresce em casa, junto de um pai distante emocionalmente e uma mãe que vive surtando. Amelie vive mais no seu mundo imaginário do que no mundo real, seu único amigo na infância era um peixe que tinha uma tendência suicida.

Amelie enfim cresce e vai morar sozinha e trabalha em uma lanchonete, sua vida é solitária e monótona. Até que a morte de Lady Di muda a sua vida. Em um estranho acontecimento, o filme é cheio de estranhos e bizarros acontecimentos, ou poderiam ser interpretados como sutilezas do dia-a-dia que passam despercebidas, mas que fazem uma grande diferença em nossos dias sem que percebamos. Amelie encontra em um buraco em seu banheiro uma caixa com lembranças de uma criança, ela resolve encontrar o dono e lhe devolver a caixa.

Depois da virada do encontro da caixa, Amelie decide que far· o bem ao próximo, numa tentativa de altruísmo que beneficiar· as pessoas que vivem ao seu redor, como um jovem que trabalha para um agressivo quitandeiro que o vive esculachando, um velho que tem doença grave nos ossos, um homem obcecado por uma ex-namorada e uma mulher hipocondríaca e uma velha moradora do seu prédio que acha que seu marido a abandonou e morreu.

Amelie começa a ajudar as pessoas mas o velho que não sai de casa por causa de sua doença de fragilidade nos ossos, diz que ela precisa cuidar de si mesma tambêm, que ela precisa encontrar alguém. … interessante que em tempos de tanto egoísmo e individualismo no mundo o filme propõe que olhemos por um outro lado, estamos tão preocupados com questões pessoais que esquecemos de que vivemos em sociedade e Amelie é um antagonismo disto, uma pessoa que soa estranha, que acaba ficando sozinha por causa de algumas de suas opções.

Ela encontra um certo rapaz tem que estranhos hábitos, entre eles o de coletar fotos de lixeiras próximas de máquinas instantâneas de fotografias, Amelie começa um jogo de conquista com o rapaz, ele tambêm é solitário e Amelie acredita que seus gostos e situações sociais são tão parecidas que eles podem se dar bem, fazendo outro antagonismo no filme, de que os opostos se atraem, aqui os iguais se atraem.

Este filme mostra que um romance pode-se tornar um bom filme de arte, antagonizando novamente com os filmes de comédia romântica tão famosos nos EUA e Brasil, talvez se este fosse um filme de Hollywood faria tanto sucesso como as comédias românticas que se vê nos cinemas de shoopings do Brasil. Aqui temos uma ótima fotografia, personagens fabulosos, alguns schegam a ser tão absurdos e tão reais ao mesmo tempo que pensamos até conhecer alguns deles. O roteiro também é maravilhoso, apesar do filme ter duas horas, não é cansativo, ele tem uma narrativa quase de filme de ação, o que deixa a estória muito agradável e dinâmica.

Antes de Amelie Jean-Pierre Jeunet tinha dirigido um filme da saga do Alien e decidiu fazer um filme com algo que mostrasse um lado mais sensível e bom da humanidade, É claro que temos ainda algumas maldades que Amelie acaba fazendo, o que tira o lado de bondade cristã. Ela faz maldades com quem merece, isso acaba isentando seus atos perante o público que sempre almeja a justiça. Apesar de ter como linha principal de narração a solidão e o encontro de um amor por Amelie e isso ser feito principalmente em filmes que agradam preferencialmente as mulheres, temos uma bela estória que agrada a qualquer um. Um filme sobre bondade acima de tudo. Sobre como vemos a bondade, levando bondade a quem merece.

Assista este grande filme que você não irá se arrepender, grandes estórias são sempre imperdíveis independente da forma com a qual são narradas. O dvd tem ótimos extras que acrescentam ainda mais a esta grande obra do cinema francês. Não é a toa que estampa a moda de uma das maiores cidades do mundo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Canções de amor (Les Chansons D Amour).
Dirigido por: Christophe Honoré.

Duração: 91 minutos.


Pode parecer estranho um filme com o título de canções de amor aqui no blog, é um filme sobre este sentimento tão confuso e estranho, é um musical moderno, é um filme sobre morte, ainda vou fazer um tese que todo filme europeu fala de morte. Enfim, um filme francês que participou da seleção oficial do festival de Cannes de 2007.

O filme é dividido em três partes, a primeira é chamada de A Partida, temos um personagem principal que se chama Ismael, ele tem uma namorada, Julie, na verdade descobrimos que são duas namoradas, a outra é Alice. Eles vivem um romance a três. Os relacionamentos a dois já são complicados, em três os problemas são maiores, mesmo assim eles parecem viver bem, mesmo com algumas discussões sobre relacionamento que parecem agredir principalmente Julie. Julie parece não estar feliz, mesmo com Ismael dizendo que ela é a preferida e que ele só ama a ela. Alice também não parece se preocupar com o amor dos dois. A primeira parte do filme se encerra com a morte de Julie por ataque cardíaco.

A segunda parte da estória é intitulada de A Ausência. A família de Julie era bem ligada a Ismael, e sua irmã mais velha está preocupada com Ismael, ou tenta encontrar nele o que restou de sua querida irmã. A todo o momento ela parece querer controlar o que ele faz. Ismael não está muito bem, Alice não continua com ele, faz coisas que talvez não fizesse quando Julie estava viva, como sair com uma garçonete e ter um relacionamento homossexual. O que mais prende Ismael agora é Erwann, um jovem estudante, apaixonado, intenso. O ponto de virado da segunda para a terceira parte é a possível consolidação do romance entre Ismael e Erwann.

A terceira parte é O Regresso, com a família de Julie ainda preocupada com o Ismael, ou talvez tentando lidar com a perda de Julie de um modo um tanto quanto estranho, ainda se apoiando em Ismael para tentar lembrar bem da filha e irmã. Ismael se sente confuso, não sabe muito bem se deve ficar com Erwann, Alice parece que não está em seus planos. O desfecho é tranqüilo, talvez o esperado pela maioria.

O filme conta com diálogos comuns misturados com músicas que ajudam a contar a estória, eu não rotularia o filme como um musical apenas, há mais em Canções de Amor, as canções são algo para acrescentar na estória e não apenas musicas e coreografias que aparecem do nada e sem sentido, como a maioria dos musicais, principalmente os americanos. Tem um roteiro bom, com diversos momentos interessantes, sempre focados na questão do sentimento de amor que uma pessoa pode desenvolver por outra. Vale a pena por ser algo diferente do que se costuma ver em comédias românticas que geralmente focam no amor que no final sempre dá certo. Apesar de Canções de Amor não ser uma comédia romântica. É um drama musical. Ou algo que segue mais ou menos esta linha de raciocínio de estória e estética fílmica.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Foda-me (Baise-moi).
Dirigido por: Virginie Despentes e Coralie Trinh Tih.
Duração: 72 minutos.

Baise-moi, que em português ganhou dois títulos diferentes, Foda-me e Estupre-me, não sei se o filme chegou a ter uma versão oficial nacional.

Uma ex-atriz pornô, Manu, que agora vive pedindo dinheiro emprestado para o irmão, está cansada da vida de sexo e dos homens. Até o momento em que ela resolve largar sua vida e tentar, através de modos não convencionais, fazer o que deseja. Nadine, uma prostituta, também esta cansada de sua vida, briga com a colega de quarto e seu melhor amigo lhe deixa. As duas por acaso do destino, acabam se encontrando e sai em um roadie movie em busca de realizar seus desejos.

Para conseguirem dinheiro para a aventura, elas usam da violência e de golpes, grandes e pequenos. Entre um assalto a mão armada e a transa com jovens em quartos de motel, elas conversam e se divertem. A diversão delas não é muito comum, atiram sem um motivo aparente. A violência neste filme é bem acentuada, desde cenas de estupro, até tiros e espancamento.

Imaginem duas mulheres revoltadas com os homens e até mesmo com o modo que encaramos o sexo. Elas estão em fúria, querem se divertir, querem prazer, mas também querem matar e deixar um rastro de sangue por onde passam, na jornada, matam que tentar atrapalha-las, desde vendedores, policiais, amantes e transeuntes.

Um grande golpe é armado, elas conseguem obter sucesso em suas empreitadas, a policia não é tão inteligente, ninguém imagina quem elas são. O próximo passo delas é sempre inesperado, não há um padrão, não há planejamento, na verdade parecem duas “porra-loucas” que querem curtir a vida, deixar de viver nos padrões sociais, alguns podem julgá-las de loucas, desreguladas. Talvez a violência que sofreram, julgo o ato delas, a revolta é tão grande que se voltar contra a sociedade chega a ser um ato natural. Duas anti-heroinas atrás de um sentido para suas vidas. Uma versão junkie e violenta de Thelma e Louise.

Não é um grande roteiro, mesmo tendo um dos finais mais interessantes que vi ultimamente, a violência as vezes passa a ser exagerada, as cenas de sexo explicito também são um pouco forçadas, acredito que não precisariam. Só que a carga emocional e todo o questionamento dos modos tradicionais que temos que aceitar para poder viver em sociedade, vale perder pouco mais de uma hora neste filme.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Pierrot Le Fou (Pierrot le fou).
Dirigido por: Jean-Luc Godard.
Duração: 110 minutos.

Godard foi o mais importante cineasta da Nouvelle Vague Francesa. Pierrot le Fou é uma obra deste cineasta que vale a pena assistir, carrega um romance que mostra alem do amor, aspectos da decadência da sociedade e de seus modos de interagir, usando a guerra, por exemplo.

Ferdinand é um homem que gosta de literatura e tem sua esposa e filhos, ao encontrar um velho amor, ele resolve que deve vivê-lo, larga tudo e segue em caminho a um roadie movie nada convencional. Marianne, o amor de Ferdinand, é uma mulher que tem seus sentimentos a flor da pele, se deixa apenas levar por eles.

Ferdinand e Marianne seguem de carro pela França, gostariam de ir para a Itália, só que não tem dinheiro suficiente para isso. Entre falcatruas, roubos e mortes, seguem pela estrada. Cenas estranhas acontecem, coisas inexplicáveis ao telespectador, mas que deve fazer sentido aos personagens, que demonstram não viverem no mesmo mundo que as outras pessoas, eles filosofam e apenas vivem, seguindo instintos e influências literárias, no caso de Ferdinand.

Eles param em uma casa de campo, depois de jogarem um conversível dentro de um lago, o material parece não importar para eles, o que importa é ter um ao outro. Ficam durante um tempo na casa de campo, Marianne rouba livros para Ferdinand, eles pescam, caçam para viver. Só que a vida no campo acaba por trazer a inevitável falta do que fazer, eles não vivem mais como diz Marianne, que quer viver, quer ação em sua vida, não lhe importa o dinheiro e os materiais da vida moderna, quer apenas viver.

Novamente voltam para o Roadie Movie, encontram refugiados, bandidos do oriente médio, americanos, todos em situações bizarras, inexplicáveis para qualquer humano comum, exceto para os nada comuns Marianne e Ferdinand. Eles planejam um golpe perfeito no irmão de Marianne, assim teriam dinheiro para ir onde quisessem. Marianne chama Ferndinand de diversos outros nomes. O mais freqüente é o Pierrot, que se traduzir ao português o nome do filme, é Pierrot o louco.

Godard é um grande cineasta. O filme começa com bastante ação, até a metade o filme tem uma velocidade incrível, depois ele começa a ficar mais lento, filosófico, confuso. Típico de um cineasta que quebrava com as “regras” do cinema. Não ligava para modos de criar e narrar pré-estabelecidos por uma indústria de massa. Godard é contestador. É um cineasta livre. As imagens do filme também são incríveis, há momentos dignos de um Kurosawa.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Música: ?
Artista: Té

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Persépolis (Idem)
Dirigido por: Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud
Duração: 95 minutos.

Confesso que não sou muito fã de animações, mesmo com a chegada de animações mais voltadas para os adultos, desde o lançamento de Shrek. E também de alguns realizadores que faziam filmes mais alternativos sem terem estórias “disneylizadas”.

Persépolis me chamou a atenção primeiramente porque eu já tinha lido a graphic novel, escrita por Marjani Satrapi, uma iraniana que conta sua própria estória, desde quando era jovem até se tornar uma mulher, sempre com a guerra no oriente médio como pano de fundo, às vezes até como pano de frente, influenciando diretamente em sua vida.

A estória começa quando Marjani ainda é uma menina, ela quer se tornar uma profetisa, ela vive conversando com Deus, só que um momento seus pais lhe contam a verdade e ela começa a ser contra o que suas professoras lhe falam. Marjani vive entre revolucionários que fazem reuniões e festas na casa dos teus pais. Assim ela vive entre prisioneiros de guerra. É quando ela conhece um tio que passou muitos anos na cadeia, mesmo com a queda de um imperador, a burocracia elege um fundamentalista à presidência que exigem que as mulheres usem véus e prende todos os revolucionários, inclusive seu tio que acaba morto. Neste momento Marjani rompe com Deus que não fez nada para salvar seu tio.

Uma das figuras mais importantes na vida de Marjani é sua avó que sempre lhe dá conselhos e ela viveu diversos momentos políticos do Irã, o que lhe dá um conhecimento gigantesco sobre política e também sobre os diversos relacionamentos que há na vida.

Depois que Marjani começa a entender melhor a política, ela começa a querer conhecer o mundo, começa a usar uma jaqueta escrita “punks not dead” e escutar Iron Maiden. Defende seus ideais no colégio, o que lhe causa problemas, inclusive junto as seus pais, que com medo que ela tenha um futuro comprometido, resolve manda-la para Paris. Ela viaja, fica em algumas casas morando de favor, até que consegue se estabelecer na casa de uma velha professora de filosofia. Em Paris Marjani conhece um grupo de punks e jovens estudantes idealistas que no primeiro momento acham que Marjani é uma revolucionária porque ela viu uma revolução e uma guerra. Eles discutem principalmente anarquismo, se divertem em festas.

Marjani começa a crescer, perceber as mudanças em seu corpo e seus sentimentos quanto ao sexo oposto, começa a se relacionar, em sua primeira paixão, ela descobre que o rapaz é um homossexual, o segundo é muito bom até que ela descobre que ele a está traindo, isso traz uma grande depressão para Marjani ela fica cerca de dois meses morando na rua, vivendo de restos de comida e cigarros, até que resolve voltar para o Irã.

Seus pais e sua avó estavam cheios de saudades de Marjani, ela volta e percebe que todas as pessoas no seu País são idiotas que não quer se relacionar com eles, fica isolada, a depressão aumenta, inclusive tenta suicídio tomando diversos remédios e durante alucinações ela volta a conversar com Deus e aparece também Karl Marx ou Bakunin (não consegui definir muito bem) que incentiva ela a voltar a viver. Ela vai para a faculdade de artes e tenta aos poucos conviver com a falta de liberdade principalmente das mulheres que tem que usar a burka e novamente se apaixona por um rapaz, mas tem que viver em reclusão para encontrá-lo, pois muita coisa é proibida no Irã.

Esta é uma animação que tem um ritmo muito bom, mesmo sendo em 2-D numa época aonde o 3-D, inclusive nas projeções, vem tomando o mercado cinematográfico. Aqui se encontra uma qualidade cinematográfica acima da média, inclusive com várias citações de diversos movimentos cinematográficos e filmes, além de ter uma bela e emocionante estória, temos uma qualidade cinematográfica muito boa, um filme apaixonante, para qualquer fã de cinema, imperdível, se você ainda não pode assistir corra atrás que é um filme que ficará para sempre em sua memória.